Camisa masculina

Assume-se, de todo, como algo fútil e de cariz pueril escrever um post sobre uma peça de roupa. Pergunto a mim mesma o que levaria alguém a ler tal coisa, mas ignorando a definição têxtil e social que lhe é confinada, vou continuar a debitar palavras.
Escrevo para uma imagem mental.
Escrevo para quem o conseguir fazer de olhos fechados, tal como eu.
O acordar de uma camisa é o armário .
Fresca, com uma elegância invejável, de carácter flexível adapta-se na perfeição a quem a usa. Raramente tem uma incompatibilidade, mas se isso acontecer, uso um ditado popular para dizer que a culpa certamente é do "c ou das claças".
Subordina qualquer estação do ano, e esta sempre presente. Mantém, há anos, a tradição familiar de ser a "senhora" polivalente no que respeita a profissões. Na agricultura, na praia, na televisão, no desporto, na informação, ou na cultura haverá sempre uma camisa.
Não fala da sua vida privada, mas sabe tudo da vida dos que a usam. Foi vista na Escócia com saias, mas sai frequentemente com calças e calções. Rumores afirmam que mantém uma relação extraconjugal com meias há vários anos.
Não usa acessórios, e é habito tomar a responsabilidade de uma gravata ou laço.
Mas se foi com o acordar que eu iniciei estas frases, permitam-me acabar com lógica, se assim não comecei.
O deitar de uma camisa é lindo.
Com gravata ou sem gravata, com laço ou sem laço, o colarinho é o primeiro a perder vitalidade. O olhar cansado de quem o acompanha é contagiante e calmo.
Segue-se o desapertar dos punhos. Com muitos ou apenas um botão, o movimento é mantido integro desde sempre. Belo e duplamente satisfatório.
O desabotoar quebra a união da cor, mostra a essência, e perde a postura.
O cheio há muito que já não é o mesmo, o toque é incrivelmente diferente, e a visão pede que o tempo dure para sempre.
No fundo, uma camisa é só uma camisa.
Talvez o nome verdadeiro seja "quem veste uma camisa".